Interessante artigo publicado no site Oilprice revela que, por uma variedade de fatores, “o aperto no fornecimento de petróleo bruto, gás e carvão estava começando a se espalhar para os derivados de petróleo, principalmente os destilados médios, entre os quais o mais popular é o diesel.”
Os estoques estão baixos em todo o mundo e analistas falam que “que o governo poderá ter de recorrer ao racionamento de gasóleo a partir do próximo mês devido ao estado do mercado e à proibição das importações de petróleo russo, que incluem o gasóleo. A Rússia fornecia um terço do diesel importado do Reino Unido antes da proibição.”
Essa situação começa a ser comentada na imprensa brasileira, mas o que não está sendo comentado é que a nossa situação é muito ruim em razão de uma decisão de investimento da Petrobrás pouco comentada: a nossa produção de petróleo seria suficiente para abastecer o mercado interno tanto em gasolina quando em óleo diesel, mas as nossas refinarias não estão capacitadas a a trabalhar com o petróleo brasileiro, como informa matéria publicada na BBC:
“O que o país extrai, na teoria, seria suficiente para atender à demanda nacional, até porque se produz mais do que se consome.
“’Mas nossa autossuficiência é nominal’, diz a doutora em Planejamento Energético e coordenadora de pesquisa do centro de estudos FGV Energia Fernanda Delgado à BBC News Brasil. ‘Existe um descasamento entre a tecnologia para refinar e o tipo de petróleo que temos.’
“’A resposta é bem simples: somos numericamente autossuficientes, produzimos mais volume do que consumimos. Mas os produtos não são os mesmos. Nosso parque de refino ainda não é capaz de refinar grande parte do óleo produzido nem de suprir a demanda interna por outros derivados’, responde, por e-mail, o professor Paulo Couto, coordenador do LRAP (Laboratório de Recuperação Avançada de Petróleo), da Coppe/UFRJ e professor da Escola Politécnica da universidade.
“Assim, exportamos óleo e importamos combustíveis e derivados. Por isso ainda estamos atrelados ao mercado internacional.”
Essa situação nunca foi interessante, do ponto de vista estratégico e da segurança energética, o que era inteiramente conhecido pelos gestores da Petrobrás – que são definidos pela União Federal -, que sempre preferiu focar na produção de petróleo, em prejuízo do refino.
Esse atrelamento ao mercado internacional não tinha maiores repercussões em outros tempos, mas agora pode se mostrar catastrófico.
Porto Alegre, 24 de março de 2022.
Carlos Alberto Etcheverry